Daí que dia desses tava eu numa loja de conveniência aqui da cidade quando me deparo com um DVD do Mazzaropi --mais um filme que em seguida entraria pra minha coleção. O longa se chama "O Jéca e a Égua Milagrosa" e é o último da vida dele.
Amácio Amadeu Mazzaropi foi um artista que deu certo na vida. Filho de uma família de classe média, oriundo da capital paulista, foi morar em Taubaté ainda pequeno mas logo voltou à cidade grande para seguir sua vocação de artista (de circo e, posteriormente, da TV e de cinema). O maestro da personificação do Jéca --personagem do taubateano Monteiro Lobato, que fazia menção ao rústico homem da lavoura brasileiro do início do século 20, levou para as telas do cinema um tipo bem conhecido e vivido nas terras tupiniquins até bem pouco tempo atrás.
Logo que comecei a assistir as primeiras cenas do filme, pensei: Afinal, quem não tem em sua família um Jéca?
Há quem negue. E se nega, faz isso por culturalmente ligar esse adjetivo a um conceito pejorativo de "peão rústico do mato". (...) Assistindo aos filmes do Mazzaropi, passei a mudar meu ponto de vista sobre esta questão. (...) Jéca é o nosso super-herói! Jéca é o homem do mato oriundo dos sertões brasileiros. Jéca é aquele que não recebeu título de bandeirante do império português, mas esteve lá nas roças, capinando, plantando, colhendo e vivendo sua nobre vida (e porque não!?) de uma nação ainda em processo de constituição.
Jéca é o homem sertanejo adaptado aos costumes urbanos, ao modo de vida Europeu regido pelas teorias democráticas romanas. Jéca é o homem da TV a cabo, da música neo-sertaneja (Chitão & Xororó, José Rico & Milionário, etc.), do CD player turbinado MP3. (...) O Jéca é o homem que, depois de tanto trabalhar, agora finalmente pode dar aos seus filhos um sonho brasileiro, semelhante ao americano capitalista.
O Jéca está por aí, dia após dia, encarnado, atravessando nossa visão todos os dias enquanto caminhamos pelas ruas. O Jéca só mudou sua roupagem, agora o Jéca usa brincos, roupas coloridas, lê livros, se acha o "top" por ter um pouco mais de recurso financeiro e estar em um clã que todos chamam de "classe média". Mas, nem por isso e nem por nada desse mundo, ele deixa de ser um herói.
era uma vez um Brasil: 1964
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É verdade mesmo que existem pessoas que querem comemorar o Golpe de
1964? E é verdade mesmo que existem dezenas ou até centenas de pessoas que
abrem a...
Há 10 anos
Um comentário:
"Um sonho brasileiro..." traduz extamente o que buscam os nossos Jécas.
Texto maravilhoso, André!
Poste mais vezes, adoro ler seus textos.
Beijo,
Ock
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